sexta-feira, 20 de abril de 2012

Num sonho sem sono


Numa troca de mensagens,
eram apenas votos usuais
coisa pouca de novas velas
o sonho vem, o sono sai.


E muda o lado do amparo
e a sequencia tiro e queda,
e liga o vento e põe na rádio,
e varre cama numa só pressa.


Pois ainda sonha sem sono
e ainda quer o que já teve,
e crê que seu maior segredo
não seja só desejo dele.

E vem falar o que o insonia
numa descarga de emoção
pois não importa mais
sonhar sem tê-la a mão.

domingo, 4 de março de 2012

Limondadas

De qual limonada vc tem noticia
se ninguém sabe que rumo levou,
se a trouxa foi grande
ou se roupa usava

não sabe se houve canudo,
se gelada ficou, gelada gotou
no peito refresco do pé nu
com vontade do que vem

ou se ouve de outras vias
o seu programa do dia
na grama de pé trocado
e dedos felizes pra riba.

Agora é observar a pia
e contar bolhas tricores.

Pra mim serviram de isca
ou amassaram na pista.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Lacuna

Por mais que o alerte do que desperdiça,
os sons externos não abalam sua certeza.
Certeza concretizada pelo excesso de avisos
se alimenta contrário ao toque de uma nota só.

Mas como então alertá-lo?
O retorno será necessário.
Talvez não haja mais combustível
nunca deveria ter saído.

Difícil ver o carro partir assim sem mais.
Difícil vê-lo fazer besteira.

Companheira,
enlouquece e se joga na frente,
e faz besteira também se for preciso.
Mas não consegue.

A lacuna acontece, não mais se reconhecem.

Ela vai viajar

Não disse muito,
não quis informar.
suas férias
eu não mereça,
ou quem sabe
o motivo seja.

de certo ela vai
e vai pra longe
pr’eu não passar.

tantas novas
que não me guarda
um despertar.

E quão longe estiver,
tanto se quer.
tanto não quer perder
nessa posse de você

Daí então escrevo, 

tento ir nesse velejo, 
topo até como um peso.

só pra isso serve esse texto

sexta-feira, 15 de abril de 2011

da varanda

É muito bom ver a vida passar. Com uma cara de nada, poder observar de cima as formiguinhas levando e trazendo utensílios para sua vida no amontoado da frente. Melhor ainda se o clima ajuda e refresca esses corredores que bloqueiam a suavidade do mar fazer parte da nossa pele. Aí é bom. Aí eu assisto com meu copo de vitamina (aveia com banana) por um bom tempo, só esperando nada acontecer. É. Não precisa um carro derrapar e bater na banquinha de revista, ou o caminhão de lixo aborrecer o tráfego nos horários inexplicáveis das suas atividades. Só preciso que as árvores dancem um pouquinho e minha vitamina esteja sólida. É fundamental virar o copo 90° e não ser o bastante para que o “líquido” escorra naturalmente. É bom viu.

sábado, 26 de março de 2011

Nocivo (Texto em construção)

Após o ato, a farça esconde sentimentos resultantes.
Medo,insegurança, arrependimento...
Um local solitário é o pedido,
lá encontrará o tempo.


Com a própria justiça tenta-se derrubar a culpa.
Sentimentos prós e contras se enfrentam ocultando o real.
A certeza do pró-certo leva ao erro.
O tempo não permite a volta, está feito!
O controle perdido pelos múltiplos sentimentos
leva a mais uma precipitação.


A fraqueza se torna forte e dita.
Sonhos são esquecidos, talvez uma sentença,
a mente não mais pensa, o corpo obedece.
Pior?

Quem poderia julgar o valor dessas vidas?

Vítimas do amor nocivo

quarta-feira, 16 de março de 2011

Acesso

Nessa nossa vida cercada de monumentos verticais, para se conseguir a elevação temos que conquistar o consentimento do guardião. Há quem arrisque e abuse da simpatia aparente junto a movimentos amigáveis. É necessário um alto carisma e a tranqüilidade de saber o que faz. Outros apostam no oposto, utilizando a antipatia usual do nosso dia-a-dia para com funcionários pouco valorizados em nossa sociedade. Tal investida tenta furar o bloqueio julgando-se pertencente a um nível superior ao do guardião, portanto, um intocável. Ambas as estratégias requerem a alta capacidade cênica de demonstrar a naturalidade nos gestos e na fala quando necessária. Invejo tal cinismo.

Para quem não pratica o cinismo, ou não valoriza as investidas pelo risco em jogo de dar a terrível oportunidade a aquele bigode junto a aquele olhar expressar com altíssima autoridade o “pra onde você pensa que vai?”, existe a forma burocrática:

- Boa noite irmão, Filipe Lorenzo por favor.
- ... (olhar de cima a baixo) Seu nome?
- Italo
- ... ( virada de olhar preguiçosa para o interfone acompanhada de torção do canto da boca para o lado contrário)
- Boa noite, ... (mão para abafar o microfone do aparelho) como é?
- Italo
- Tiago se encontra aqui.
- Pode ir lá.

É nítida a revolta dele pela inconveniência em atrapalhá-lo na palavra cruzada. Não acho que suas atividades se resumam a avisar os do topo que visitas incomodam-no, mas faz parte.

Analisemos o diálogo.
. Primeira fala: o incomodante tenta ser educado, próximo e sucinto.
. Segunda fala: mesmo com o esforço do incomodante, o incomodado faz questão de mostrar seu desprezo. Essa atitude ganha força na quarta fala.
. Quinta fala: um clássico. Essa imagem define a situação.
. Sétima fala: neste momento a fala sai rasteira, ruidosa, para que nem o receptor, nem o incomodante percebam o que está sendo dito. Lidar com nomes não é o forte da categoria.

Não adianta repetir, você será rebatizado.